Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo traz uma boa e uma má notícia para dependentes de álcool que decidiram apostar em grupos de autoajuda para livrar-se do vício. A boa notícia é que entre os dependentes que frequentam ao menos duas vezes por mês as reuniões dos Alcoólicos Anônimos (AA), o mais conhecido desses grupos e objeto da pesquisa da Unifesp, 45% conseguem ficar abstêmios por seis meses, período mínimo necessário para considerar o resultado do tratamento satisfatório. O problema é que menos de 19% dos que lá ingressam mantêm a assiduidade exigida - o que conduz à segunda notícia: as chances de uma pessoa conseguir parar de beber por meio do ingresso no AA são as mesmas de quem tenta fazer isso sem ajuda nenhuma. Em outras palavras: o AA, segundo o estudo da Unifesp, não funciona - ao menos não sozinho.
Para conduzirem o estudo, pesquisadores do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) da Unifesp acompanharam durante meio ano 257 dependentes de álcool que foram encaminhados ao AA. No fim desse período, apenas 49 haviam comparecido aos encontros pelo menos uma vez por mês. A "falta de identificação" com o método foi a resposta mais citada pelos desistentes, mas o "ambiente pesado" das reuniões, justificado pela recorrência de relatos considerados "depressivos", também foi mencionado com frequên-cia. A barwoman Renata (nome fictício), de 41 anos, dependente de álcool desde os 26, conta que não conseguiu ir a mais do que quatro encontros do AA. "Minha vontade de beber, em vez de diminuir, aumentava com as sessões", diz ela. "As pessoas só falavam em álcool durante uma hora e as histórias eram sempre tristes. Um dia, saí de lá e fui direto para o bar", conta. A incapacidade de reter os frequentadores é o principal problema do AA, segundo o estudo do Proad, mas não é o único.
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EFEITO INVERSO A barwoman Renata foi a quatro encontros do AA e desistiu: "Minha vontade de beber aumentava em vez de diminuir" |
De acordo com o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Proad, o método dos Alcoólicos Anônimos é particularmente ineficaz para duas categorias de alcoólatras: os que têm dificuldade de falar em público, uma vez que a verbalização da doença está na base do tratamento da associação, e os que sofrem de algum tipo de problema psiquiátrico - caso de três em cada quatro dependentes de álcool, afirma ele. Na origem da segunda incompatibilidade está o fato de que, não tratado, o distúrbio psiquiátrico torna a abstinência um objetivo bem mais difícil de atingir. Tome-se o exemplo de alguém que sofre de depressão ou fobia social. Se ele estiver habituado a recorrer a um copo bem cheio para amenizar a intensidade da tristeza ou a dificuldade de se relacionar com as pessoas, terá mais problemas para livrar-se da bebida. O representante comercial Eduardo (nome fictício), de 40 anos, além do alcoolismo, sofria de depressão e transtorno obsessivo-compulsivo. Participou de cinco grupos de autoajuda e não conseguiu ficar mais do que alguns dias longe de um copo. Hoje em tratamento psiquiátrico, está há oito meses sem beber. "Identificar se algum transtorno levou o indivíduo à dependência é fundamental no tratamento do alcoolismo", diz um dos autores do estudo do Proad, o psiquiatra Mauro Terra, do Centro de Estudos José de Barros Falcão.
O psicólogo americano William Richard Miller, professor aposentado de psicologia e psiquiatria da Universidade do Novo México, analisou uma série de pesquisas sobre a eficácia do AA, algumas apontando taxas de recuperação de até 81%. Chegou à conclusão de que muitas delas apresentavam resultados inflados, por causa de erros metodológicos. Em compensação, obteve um dado animador. Descobriu que a participação assídua em grupos de autoajuda faz crescer em até 10% a chance de abstinência no caso de um dependente de álcool que já esteja em tratamento psiquiátrico.
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ALÉM DO ALCOOLISMO Com depressão e TOC, Eduardo, dependente de álcool, tentou cinco grupos de autoajuda antes de recorrer ao psiquiatra |
Criado em 1935 nos Estados Unidos, o modelo dos Alcoólicos Anônimos parte do princípio de que só um alcoólatra pode ajudar outro - o que ocorreria por meio do apoio mútuo, do compartilhamento de experiências e do compromisso de seguir os doze passos, conjunto de princípios que forma a base metodológica do AA (o primeiro passo prega a admissão da impotência do doente diante do álcool e o segundo invoca a crença de que a sua recuperação depende de um poder superior). O método é hoje seguido por 2 milhões de pessoas em mais de 160 países. No Brasil, existem em torno de 6.000 grupos de Alcoólicos Anônimos, que, segundo a entidade, reúnem 110 000 membros - aqueles que comparecem ao menos uma vez por semana às sessões ou participam dos encontros on-line.
Embora admita que o AA tem limitações, o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, coordenador do Grupo de Estudos de Álcool e Drogas da Universidade de São Paulo, afirma que não se pode desprezar a sua relevância, sobretudo para "os que não podem arcar com os custos de um tratamento médico e aqueles que possuem algum tipo de crença espiritual". Tanto isso é verdade que os doze passos hoje já não são usados exclusivamente pelos grupos de autoajuda. "Muitas clínicas de recuperação de dependentes de álcool adotam a cartilha", diz o psiquiatra Marcelo Niel, do Proad. O coordenador do grupo, Dartiu Xavier da Silveira, chama atenção, no entanto, para o fato de que a combinação de dois fatores - remédios e psicoterapia - é um dos caminhos comprovadamente mais bem-sucedidos até hoje na reabilitação de alcoólatras. A taxa de abstinência, nesse caso, chega a 36%, contra a de 9% obtida por indivíduos que apenas recorrem aos grupos de autoajuda. Força de vontade e palavras de apoio são essenciais, mas a estrada rumo à sobriedade requer mais do que doze passos.
Com Reportagem de Marina Yamaoka
Emílio Luís Mallet, nascido francês, brasileiro por amor e opção, artilheiro por vocação e patrono pela exemplar bravura de soldado.
Aos 18 anos, chega ao Brasil com excepcional bagagem cultural: Matemática na escola na Escola Militar de Saint-Cyr, França, e Humanidades, na Bélgica. D. Pedro I convida-o a alistar-se nas fileiras do Exército Nacional, em vias de organização.
Matriculado na Academia Militar do Império, no Curso de Artilharia, jura a Constituição Imperial, adquirindo a nacionalidade brasileira.
Foi em terras sulinas que viveu o maior período de sua vida militar. Na Campanha Cisplatina, entrou em combate. Seu batismo de fogo aconteceu na Batalha do Passo do Rosário, em 1827, quando se revelou um guerreiro dotado de extrema coragem e notável liderança. Nesse episódio, ao assumir o comando de quatro baterias, substituindo seus comandantes feridos, o Tenente Mallet galgou ao posto de capitão por sua iniciativa e atuação enérgica.
A inesperada crise política de 1831, ocorrida na Corte, rende-lhe a primeira injustiça. Com a abdicação de D. Pedro I, é demitido do serviço militar por não ser brasileiro nato, com base em lei votada sete anos após ter escolhido o Brasil para ser sua Pátria e lutado sob sua Bandeira.
Eclode o Movimento Farroupilha e, apesar de tudo, oferece-se para integrar as forças legais, o que é aceito pelo governo imperial. Apaziguado o conflito, é novamente afastado da tropa.
Somente em 1851, quando participou como voluntário das lutas contra o restabelecimento do Vice-Reinado do Prata, é reintegrado ao Exército no posto de major, em ato de justiça e reconhecimento.
Por sua atuação em Monte Caseros e, posteriormente, em Paissandu, onde sua artilharia bombardeou o inimigo durante 52 horas ininterruptas, fator decisivo para a rendição daquela praça de guerra, Mallet recebeu a Medalha de Ouro da Campanha do Estado Oriental do Uruguai e de Oficial da Ordem Imperial da Rosa.
O homem, o soldado, o comandante tornava-se um mito para seus comandados e um exemplo para seus pares e comandantes.
Ao lado de Caxias, Osorio, Sampaio, Cabrita e tantos outros, peleja arduamente nos sítios da Guerra da Tríplice Aliança, restabelecendo e reafirmando nossa soberania.
Em Tuiuti, no comando do 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, sobressaiu-se por sua inesgotável energia e capacidade profissional. Ante surpreendente carga de cavalaria inimiga contra as posições aliadas e a impossibilidade de reação adequada pelos elementos avançados, a artilharia responde com uma impressionante cadência de tiro – a artilharia revólver de Mallet – que, apoiada em um profundo poço de proteção construído à frente das posições, sustou oito vagas de assalto dos adestrados esquadrões inimigos. “Eles que venham… por aqui não passarão!” E não passaram. Mais uma vez evidencia-se sua reconhecida capacidade profissional.
Aos 65 anos, promovido a coronel, por bravura, recebe o comando da Brigada de Artilharia, à frente da qual palmilha quase todo o território paraguaio. Desde a estóica Travessia do Chaco e a ocupação de Assunção, às vitórias de Itororó, Avaí, Lomas Valentinas, Angustura e Peribebuí, a Artilharia de Mallet constituiu fator indispensável para a vitória.
Quando a guerra entrou em sua última fase, Mallet é alçado ao Comando Geral da artilharia para conduzi-la na vitoriosa e decisiva Campanha da Cordilheira. É promovido a Brigadeiro e agraciado com a Medalha do Mérito Militar e a Medalha Geral da Campanha do Paraguai.
Encerrava-se, em campanha, uma brilhante carreira de soldado. Admirado e respeitado por todos, incorporava as grandes virtudes de chefe militar. O extremo cuidado com seus subordinados e rigoroso zelo com o material – “com a mão enluvada em pelica branca, inspecionava a culatra das peças da artilharia” – personificaram em Mallet o espírito dos artilheiros de todas as gerações.
Fidalgo em Dunquerque, entrou para a nobiliarquia brasileira com o título de Barão de Itapevi. Seu brasão contém o símbolo glorioso da artilharia, de chama ardente e viva, tal qual o invicto Patrono acendeu no coração e na alma de seus subordinados e que, hoje, inspira seus discípulos de arma.
Dia 10 de junho é o Dia da Língua Portuguesa e para comemorar essa data a Editora Positivo nos enviou esse texto, que fala sobre a Língua Portuguesa e sobre a edição comemorativa do Dicionário Aurélio, a ser lançado no segundo semestre.
Nossa língua materna deixa muita gente em dúvida quanto à sua ortografia, principalmente após entrar em vigor o novo acordo ortográfico. Depois de várias tentativas de unificar a ortografia da língua portuguesa, desde 1º de janeiro de 2009 passou a valer no Brasil e em todos os países da CLP (Comunidade de países de Língua Portuguesa) o período de transição para as novas regras ortográficas que finaliza em 31 de dezembro de 2012. Algumas modificações foram feitas para promover a união e proximidade dos países que têm o português como língua oficial: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal.
Para acabar com as dúvidas, nada como recorrer a um bom dicionário. No dia 3 de maio foi comemorado o centenário do criador do mais importante dicionário de Língua Portuguesa do Brasil, o lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda. Para homenagear e comemorar este momento, a Editora Positivo, empresa detentora dos direitos de publicação, edição, distribuição e comercialização do conjunto das obras Aurélio, prepara uma edição comemorativa e limitada do dicionário, que será lançada no segundo semestre deste ano.
O dicionário Aurélio é a obra de referência mais consultada no Brasil. Ele é utilizado por pessoas de todas as classes sociais, de vários meios e profissões. Sua primeira edição foi lançada em 1975 e, desde então, milhares de pessoas adquiriram e expandiram seus conhecimentos em língua portuguesa.
Em 2002, a Editora Positivo adquiriu os direitos de publicação dos dicionários Aurélio e, em 2003, a empresa paranaense conquistou os direitos de edição, distribuição e comercialização de todo o conjunto de sua obra. Hoje, a Editora Positivo mantém produtos da chamada família Aurélio, entre os dicionários impressos, suas versões digitais em CD-ROM e on-line e a Caneta Digital Aurélio. Toda essa variedade de produtos rendeu ao público leitor e consulente novas formas de acesso ao dicionário. Além do suporte tradicional, que é de papel, hoje as pessoas podem consultar a obra pelo computador, com a instalação ou utilização dos CDs. Outra vantagem foi a adequação dos títulos para diferentes públicos e faixas etárias. Há dicionários para crianças em fase de alfabetização (Aurelinho), para adolescentes (Aurélio Mania), para estudantes universitários, que precisam realizar consultas rápidas (Miniaurélio), e para profissionais das mais diversas áreas (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa).
Adaptações ao Novo Acordo Ortográfico
A língua portuguesa vem sofrendo constantes modificações. Segundo a editora de obras de referência da Editora Positivo, Valéria Zelik, as pessoas estão bem menos ansiosas do que há um ano e meio, pois têm percebido que o acordo não é tão incompreensível como imaginavam e têm acesso a várias obras que explicam as mudanças, como guias e dicionários. Ao mesmo tempo, vários, se não a maioria, dos jornais, revistas, entre outros meios de comunicação, têm utilizado as novas regras, o que facilita a interiorização da nova grafia, em especial das palavras mais frequentes que sofreram alteração. Valéria acredita que a ansiedade pode voltar após o término do período de transição, em que a nova grafia com certeza será mais cobrada e até exigida, principalmente em concursos, vestibulares e outras provas. A grande dúvida ainda gira em torno da real unificação ortográfica, pois não se tem registro da adesão dos demais países lusófonos. “Apenas o Brasil pratica a nova ortografia”, afirma a editora.
O Brasil tem ganhado visibilidade internacional. Tem-se a perspectiva de ser um país de mais destaque na economia mundial muito em breve. “Será o país da Copa e das Olimpíadas. Isso faz com que as atenções se voltem ao Brasil como um todo, incluindo a língua. As discussões sobre a nova ortografia terão continuidade com os demais países lusófonos. Talvez haja necessidade de alterações em alguns termos do Acordo ou em algumas decisões tomadas pelo país, teremos que esperar. Tudo isso demonstra que a língua portuguesa tem ganhado evidência, tendência que se intensificará num futuro próximo”, acredita Valéria.
Ainda segundo ela, o período de coexistência das duas grafias é útil para dar às pessoas o tempo necessário à adaptação. “Como em qualquer mudança, ainda existem os que se negam a se adaptar, o que já era esperado, pois, ainda hoje, encontramos quem acentua a palavra flor, acento desusado há várias décadas. E também é esperado que haja aqueles que começarão a usar a nova grafia apenas após o período de transição, deixando para compreender as mudanças na “última hora”, prática frequente em nosso país. Tem-se notado um aumento de consumo de dicionários, o que demonstra o interesse das pessoas em adaptar-se a essa nova realidade. Apesar disso, a perspectiva é que, até 2012, a maioria das pessoas e pelo menos todos os estudantes estejam completamente adaptados”, diz Valéria.
Nossa Língua Portuguesa
Com mais de 260 milhões de falantes, a língua portuguesa é, como língua nativa, a quinta língua mais falada no mundo, a mais falada no hemisfério sul, a terceira mais falada no mundo ocidental e das que usam o alfabeto latino. Além de Portugal, é oficial em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e, desde 13 de julho de 2007, na Guiné Equatorial, sendo também falada nos antigos territórios da Índia Portuguesa e em pequenas comunidades que faziam parte do Império Português na Ásia como Malaca, na Malásia e na África Oriental como Zanzibar, na Tanzânia.
Assim como os outros idiomas, o português sofreu uma evolução histórica, sendo influenciado por vários idiomas e dialetos, até chegar ao estágio conhecido atualmente. Deve-se considerar, porém, que o português de hoje compreende vários dialetos e subdialetos, falares e subfalares, muitas vezes bastante distintos, além de dois padrões reconhecidos internacionalmente (português brasileiro e português europeu). No momento atual, o português é a única língua do mundo ocidental falada por mais de cem milhões de pessoas com duas ortografias oficiais.